segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Ortotanásia e o direito de morrer


Diante da sugestão deste tema, que por sinal, veio de uma pessoa que tem profunda influência sobre minha vida, hesitei, achei que não seria capaz de discorrer sobre algo tão complexo.
No entanto, durante alguns dias tentei estudar sobre esta Resolução, que nada mais é que, o momento que a pessoa, com sua doença, simplesmente resigna-se diante da falta de capacidade humana em curar e restabelecer a saúde.
Fechei meus olhos ao estudo, à leitura mais aprofundada, minha reação de um tema complexo foi transformá-lo em artigo científico. Porém, larguei mão deste artifício, pesquisadora ainda não sou, nem sei se tenho capacidade para tal. Talvez, amante da leitura e da arte de escrever, mas, catedrática científica estou longe.
"Transportei-me então para um hospital, senti uma luz enorme em meus olhos que chegou a arder, parecia que passei um mês com olhos vendados e abruptamente arrancaram o pano que tapava a minha visão. Ainda enxergava tudo embaçado, as imagens ainda não estavam nítidas  quando de repente, senti um frio imenso em minhas entranhas, meus ossos doíam, aliás, meu corpo todo doía  desde a falange dos dedos, até a última vértebra  Olhei para o meu lado, enxerguei um ente querido, apático, talvez tivesse dias sem dormir. Não posso dizer que não sabia o por quê de tudo aquilo, sim, estava consciente, estava morrendo, estava por um fio. Tantos anos se passaram e nada surtiu efeito. Sim, Deus estava me dando um sinal e me dando a  oportunidade de decidir em ficar ou decidir ir ao seu encontro.
Não consigo falar muito, mas consigo balbuciar algumas palavras, chamo a pessoa perto de mim e digo: - Quero ir para casa, meu último pedido...me leve para minha cama, deixe que eu fique lá, perto de vocês. Irei ao encontro de Deus perto da minha familia e não em um ambiente que só me traz recordações dolorosas. Após essas palavras tudo se apaga, adormeço. Cansei. Queria mesmo era não acordar e acabar com este suplício.
Não sei quantos dias se passaram, pois não tenho noção de tempo. Quando estamos em um hospital, não levamos um calendário e colocamos em nossa cabeceira, pois aí que os dias não passariam.
Acordo e sinto que algo está diferente, olho para o lado e vejo um porta retrato familiar, a foto da minha formatura, olho para frente e consigo assistir a televisão. Enfim, reconheço meu quarto. Que felicidade estar em casa. Agora posso terminar minha missão, agora posso retornar aos braços do Pai. Talvez, sinta mais dor do que se estivesse no leito de um hospital. Mas, não existe dor maior que estar longe de quem você ama e longe de casa."
Não teve decisão mais humana da Justiça Brasileira em conceder a Ortotanásia. Talvez, você que esteja lendo este texto, ainda vá contra esta decisão, julgue inconstitucional, seja positivista ao extremo. Mas, se transporte ao momento descrito acima e tente perceber que mais que inconstitucional é o ser humano ter um último pedido e não ser atendido. Onde estará o princípio da dignidade humana, se não em, ouvir e respeitar o desejo do próximo?
Só questione quando se colocar no lugar de quem sofre. Se mesmo assim, ainda achar que não foi a melhor decisão. Parabéns! Você é a única pessoa que conheço que gosta de não ter suas vontades atendidas.


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